sexta-feira, 17 de junho de 2011

A "marvada" da meia entrada...



No dia 6 de junho, o presidente da rede de cinemas Cinemark, Marcelo Bertini, em entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo, criticou a meia entrada no Brasil. Explicou que o "a meia entrada é um custo imposto pelo Estado para o empresário, sem nenhum tipo de contrapartida. Além dos impostos que a gente já paga, é como se essa fosse a minha participação no desenvolvimento cultural do país."

Perfeito! Mas muito curioso saber que essa é a opinião do presidente da maior rede de entretenimento do Brasil, em um mercado cujos números comprovam o constante crescimento e, que grande parte desse crescimento também se deve ao benefício da meia entrada.

De acordo com a Agência Nacional do Cinema - ANCINE, em relação a 2009, a audiência nos cinemas em 2010 aumentou 19,24%, com um crescimento na renda da ordem de 29,57%. Será que esses números não seriam determinantes para provar que o cinema é, sim, um produto de consumo consolidado e que independente do fato de fornecer meias entradas, só continuará crescendo?

Obviamente o empresário está mais preocupado com o lucro da coisa toda, com uma contrapartida eficaz, ou no mínimo o reconhecimento por ser o grande protagonista pelo fornecimento de cultura à população. Palmas para a visão capitalista...

Marcelo Bertini ainda diz que dificilmente as pessoas encontrarão uma diversão completa como é o cinema pelo valor entre R$16 e R$18, comparando o preço à entrada de R$30,00 para se assistir um jogo de futebol. Creio que o empresário tenha esquecido que o cinema é muito mais global do que o futebol, mesmo que o Brasil seja o país desse esporte. Pessoalmente, não concordo com a colocação. Para uma pessoa sozinha, pode até ser um investimento interessante, mas para um pai de família, que leva a esposa e dois (ou mais) filhos ao cinema, a brincadeira perfeita pode se tornar um pesadelo. Ainda mais se considerarmos a renda da população.

Alegar que o valor do ingresso está diretamente ligado à existência de meia entrada, também é chamar o usuário de idiota. Estamos no Brasil, onde o valor de um show chega a R$300, enquanto lá fora custa U$60 (cerca de R$105), e mesmo assim os shows são todos lotados, com filas imensas e pessoas dormindo na porta uma semana antes do evento. Isso quer dizer que o brasileiro paga por diversão, e paga bem. Ou seja, sem a meia entrada os preços poderiam ser muito superiores, sem chance de haver diminuição nas audiências.

A discussão é longa, e não é possível que apenas um dos lados seja escutado nessa conversa. Entendo que assim como o empresário paga seus impostos, cada cidadão também paga os seus impostos, com a diferença de a sua renda não crescer na proporção da audiência nos cinemas.

Além disso, a preocupação poderia ultrapassar a de extinguir a meia entrada. O presidente poderia, por exemplo, pensar em como reduzir os preços das pipocas, refrigerantes, doces e demais quitutes comercializados dentro do cinema. Ou quem sabe, melhorar a qualidade dos serviços (alguns atendentes precisam de reciclagem constante, ou será que simplesmente não servem para atender o público?). Isso sem contar a limpeza das salas e corredores. E a própria fiscalização pelo bem estar dos seus usuários.

Apresentar videozinhos no início de cada sessão explicando que não é permitido atender celular ou conversas paralelas, não faz com que isso aconteça do nada.

Enfim, terminar com a meia entrada provocaria o mesmo que aconteceu com o fim das vídeolocadoras de bairro, tendo sobrado uma grande rede de locação cujos preços são inacessíveis para grande parte da população. Monopólio com preços altos, esse é o preço a ser pago com o fim de um benefício que pouco influencia, de fato, no valor do entretenimento em um país que carece tanto de diversão de qualidade e cultura.

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