sexta-feira, 20 de julho de 2012

Neurocinema: como a tecnologia vai mudar o jeito de se fazer filmes no futuro

Foto: Divulgação

Neurocinema: o filme no controle da atenção do espectador

Uma superprodução cinematográfica é um investimento caro e nenhuma produtora que invista US$ 100, 200 milhões em um filme pode se dar ao luxo de levar às telas um retumbante fracasso. Um fiasco dessas proporções pode levar um estúdio à falência e o valor artístico aqui fica em segundo plano: é preciso, ante de tudo, recuperar o dinheiro investido. Por isso, Hollywood se cerca de estratégias para minimizar os riscos de um blockbuster fracassar. A mais nova e promissora arma dos estúdios é o uso de uma espécie de escâner cerebral para avaliar previamente a receptividade do público a uma produção.

O aparelho se chama Gerador de Imagens por Ressonância Magnética Funcional (fMRI), máquina que produz imagens em tempo real da atividade cerebral, geralmente é usada geralmente para fins médicos. O equipamento já vem sendo utilizado há alguns anos por empresas de neuromarketing como a MindSign, localizada em San Diego, na Califórnia, para ajudar Hollywood a criar trailers de filmes mais eficientes com base nas respostas neurais das pessoas. Atualmente diversos centros de pesquisa vêm realizando testes para tornar também os filmes mais eficientes, ajudando a moldar o produto com a esperança de que fature mais. O trabalho, inclusive, ganhou status de estudo científico e é chamado de Neurocinema, responsável por analisar as reações cerebrais das pessoas diante de uma obra cinematográfica.

As pessoas mentem, o cérebro não
Os chamados testes de audiência são uma prática comum nos Estados Unidos há décadas. Muito antes de um longa chegar aos cinemas, centenas de espectadores avaliam o filme ainda em processo de produção por meio de questionários. O processo permite aos realizadores uma visão privilegiada e, com bases nestas respostas, tomam decisões relevantes para o aprimoramento do filme e para a elaboração de sua estratégia de lançamento.

O problema é que todas essas decisões são feitas em cima de impressões subjetivas das pessoas. As pesquisas realizadas pela MindSign mostram, por exemplo, que em testes de audiência as pessoas costumam dizer aquilo que acham que o realizador quer ouvir, ou o que acreditam ser a resposta certa. É aí que o fMRI entra. Os exames de neuroimagem funcionam como uma espécie de polígrafo, evitando que as pessoas mintam ou escondam suas verdadeiras impressões.

Um fato ocorrido em 2007 atesta a eficiência da técnica. Um teste de público ocorrido no Reino Unido apresentou um resultado negativo para um gameshow chamado Quizmania. 30% da audiência afirmou, categoricamente, ter detestado o programa. A rede de TV fez um novo teste usando o fMRI e encontrou evidências de que as pessoas iriam gostar do programa. Resultado: o Quizmania foi lançado e tornou-se um grande sucesso.

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Testes de audiências por meio de questionários: subjetividade humana conduz ao engano
O medo inconsciente

Os resultados dos estudos feitos até agora têm demonstrado que alguns filmes podem exercer controle considerável sobre o cérebro. E este impacto varia consideravelmente de acordo com as sequências de imagens, o conteúdo da produção, edição e estilo de filmagem.

Não à toa a indústria cinematográfica começa a enxergar no fMRI um método seguro e eficiente para avaliar melhor seus produtos. Um teste de audiência comum pode até mostrar que determinada cena não está funcionando, mas o fMRI pode apontar o exato local em que as coisas não deram certo e, possivelmente, fornecer subsídios para corrigir o problema.

O aparelho já vem sendo usado por produtores de filmes de terror, pois verifica uma parte do cérebro chamada amígdala cerebral, identificada como a responsável por lidar com reações primitivas como o medo. Examinando vários cérebros, tira-se uma média dos resultados e define-se os pontos certos a estimular para aumentar a resposta da amígdala. Testes feitos pela MindSign constaram, por exemplo, que em determinado filme uma cena de uma mão se arrastando pela parede surtiu mais efeito estimulante do que um vilão pulando de trás de um arbusto, contrariando o que imaginavam os realizadores.

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Reação: áreas ativivadas pelo cérebro durante a exibição de filmes diferentes

Valores cinematográficos

Ao longo dos anos, cineastas desenvolveram um arsenal de dispositivos (montagem, edição de continuidade, close-up) para dirigir as mentes dos espectadores durante a exibição de um filme. Estas técnicas, que constituem a estrutura formal e estética de qualquer produto cinematográfico, determinam como o público responderá ao filme. Embora a ideia de que os filmes possam exercer controle sobre as mentes dos espectadores não seja nova, até o advento dos métodos do Neurocinema não havia maneira de penetrar a mente do espectador e registrar seus estados mentais.

Não está claro ainda se a tecnologia poderá ser usada para todos os gêneros de filmes, porque o fMRI tem dificuldades de lidar com emoções mais complexas. Quanto mais sutil o trabalho artístico da obra, mais difícil de codificar seus efeitos no cérebro.

Mesmo que muitos testes ainda precisem ser realizados, ao que parece a indústria de cinema de Hollywood parece inclinada a apostar sua fichas no fMRI como uma ferramenta eficaz para envolver o público ainda mais num filme.

O método, sem dúvidas, fornece uma medição segura do nível de controle e os efeitos comuns causados por um filme na mente do público. A semelhança nas reações cerebrais não podem, no entanto, ser a única medida de para avaliar a qualidade de uma obra de cinema. Assim, espera-se que o fMRI não seja utilizado para avaliar os valores estéticos, artísticos, sociais e políticos de um filme. Do contrário, no futuro do cinema não haverá espaço para a criatividade e inovação.

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