quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Meus dois centavos sobre o assunto

Essa questão de pirataria é mais complexa do que fazem parecer. Mais do que "patrocinar" o crime, ou prejudicar autores e direitos autorais, a discussão deveria ser muito mais abrangente do que tentam fazer. Não que esses argumentos não sejam suficientes, até acho que são, mas não representam toda a verdade.

A questão aqui, como podem imaginar, é lucro. Simples e direto, assim. Não há vínculos com criação, direitos, crime, ou qualquer outra bobagem que queiram empurrar guela abaixo. Fazem propaganda nos trailers iniciais do cinema, dos DVDs que compramos, alugamos e, ironicamente, até nas cópias piratas. A ameaça impera sobre a razão.

A lógica, em muitos países, é a da liberdade de uso. Eles copiam ilegalmente pois acreditam que deveria haver algo que permitisse essa liberdade. Claro que existem leis internacionais muito mais sérias, e duras, que mostram o contrário. E a pirataria na Europa, e América do Norte, arrisco dizer, é mais um ato de rebeldia do que um fenômeno social.

No restante do globo, a questão é puramente (fria e calculadamente) financeira. Traga esse pensamento à nossa realidade. Não estou questionando o trabalho de produtores, diretores, atores, e toda uma equipe envolvida na produção de um filme, sua distribuição, e demais fases para fazer um DVD chegar às mãos de seu usuário final.

O ponto aqui é o custo que isso gera a esse usuário final. Um DVD nos EUA sai por até 10 dólares (sem contar as edições especiais, edições de colecionadores, edições de diretores, e mais algumas). Num cálculo grosseiro, isso significaria que um DVD por lá alcança os patamares de 17 reais. Aqui, um DVD lançamento, sai por algo entre R$39,90 e R$49,90. Em alguns casos, o triplo do valor cobrado por lá. Ah, mas você está se achando esperto por comprar o DVD alguns meses após seu lançamento por R$10,00. Ok. Mas lembre-se que alguns filmes nunca chegam a esse patamar de preço por aqui, independente do tempo de lançamento e que, assim como ele desvaloriza por aqui, desvaloriza em todos os cantos do planeta também.

Se isso não fosse suficiente, uma entrada para o cinema custa entre 15 e 25 reais (dependendo do cine de sua preferência). Custo que aumenta ainda mais se você levar um acompanhante, e se decidirem comer uma pipoquinha.

Um aparelho de DVD (daqueles bons, simpáticos, e baratos) custa menos de 150 reais. Então, por que é que eu vou gastar em 3 filmes, ou 3 idas ao cinema, o valor de um equipamento que está lá na minha sala, pronto para dar todo o entretenimento que eu sempre quis na minha vida, desde que eu me descabelava frente à TV com a Sessão da Tarde?

A pessoa vai querer comprar o filme de 2 ou 3 reais que está no ponto de ônibus, na saída do seu serviço. E nem vai ficar com a consciência pesada por isso. Além do mais, e se o filme não for grande coisa? Alugar? E por que não? Mas com preços entre 7 e 10 reais no aluguel de cada filme, volto a dar preferência aos amigos que distribuem versões genéricas.

Não é qualidade. Não é quantidade. Não é enganação. Não é bancar o esperto. As pessoas querem divertir-se, e pagar pouco por isso. E eu concordo com isso. Se em outros países isso pode acontecer, por que não por aqui?

O custo do entretenimento no Brasil é muito alto. A ida ao cinema é cara, e engloba toda uma série de fatores, como transporte, alimento, escolha da sala, escolha do horário, que acaba desgastando até o mais animado dos espectadores.

O DVD original é ótimo. Vem com extras (alguns piratas também), tem uma caixinha bonitinha, tem até uma impressão no próprio disco (alguns piratas também), a qualidade é muito melhor, isso não há o que questionar, e provavelmente não dará problemas a você ou ao seu equipamento. Mas isso tudo não justifica o custo final.

São numerosos impostos, mesmo que comissões especiais tenham votado a isenção deles desde 2009. E mesmo assim, as pessoas consomem. No cinema, a mesma coisa (sem a isenção), e hoje o cinema é um artigo de luxo. O mercado percebeu isso e investiu pesado. Cada vez mais chegam ao mercado filmes novos e diferentes, pra todos os gostos, e quem não assistir, acaba excluído na roda de conversa com os amigos. O gasto de uma ida ao cinema, ao menos uma vez por semana, não é para qualquer bolso.

As opções? Você reduz os preços e vende mais, minimizando a pirataria, ou mantém os altos valores e continua incentivando o crime. Variações de embalagens (mais econômicas). Mídias fabricadas a partir de material reciclado. Promoções por quantidades diferenciadas (boxes, combos, ou o nome que preferir). Os filmes acabam lotando as lojas, mas os preços não diminuem, e o espectador recorre a outros mercados.

Novas tecnologias? Ótimo! Temos o Blu-ray, que nem surgiu como um vilão no combate à pirataria, mas imaginava-se que seria mais difícil a sua cópia. O custo de um filme? Mais de 200 reais. Hoje, quase dois anos após seu lançamento, já é possível encontrar variações entre 29 e 79 reais. Melhor qualidade de som e imagem, mais extras, opções de jogos, mas tudo isso interferindo no preço final. O consumidor assustou e, percebo, a tecnologia não pegou como deveria (e já cogitam novas linguagens, o que não justificaria a aquisição de um blu-ray nesse momento).

Outras tecnologias serão criadas. Muitas. E ao mesmo tempo em que são criadas, milhares de pessoas trabalham em soluções para desbloqueá-las. Novamente, pela sensação de liberdade, ou pela fácil comercialização e aceitação do público. E o custo disso tudo fica para o usuário que tenta ser correto e adquire DVDs ou outras mídias originais. Agora a pessoa terá que cadastrar os aparelhos onde executará tal disco. Se o equipamento der problema... pepino para o consumidor. Ou a mídia virá com a programação de quantas vezes poderá ser executada. Após isso deixa de funcionar. Para o colecionador, não acaba sendo uma boa saída.

Por isso, insisto, por que não reduzir de vez os preços das mídias originais e observar como o mercado se comporta? Tenho certeza que a surpresa será muito agradável, e o consumidor não terá que se preocupar com novas tecnologias por um bom tempo (assim como seus custos e exigências de conhecimento), e os produtores terão sua polpuda fatia dos lucros.

As pessoas não são tão intolerantes. Entre pagar 5 reais numa falsificação e 10 num original, ou mesmo num ingresso de cinema, as pessoas optariam pelos 10 reais. Mas enquanto ninguém sério percebe isso, vamos acompanhando o show de ameaças e novas tentativas surgirem a cada ano, e o tempo que se leva até alguém descobrir como burlar as novas geringonças.

Em tempo... não sou a favor da pirataria e, confesso, nem sou contra. Acho que independente de haver cópias ilegais, os produtores (e todos os envolvidos) continuam tendo seu lucro, bastante razoável, havendo oportunidade também para esse mercado paralelo, voltado às camadas mais populares. Já me dei mal com falsificações, mas já vi gravações perfeitas antes mesmo de o filme ser lançado nos cinemas. Escolher entre o original e a falsificação depende de vários elementos (independente de isso ser considerado crime). É um assunto complexo, com opiniões distintas e, em alguns casos, radicais. No fundo, acredito que se houvesse um ajuste nos valores, todos os lados sairiam felizes e satisfeitos.

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