quarta-feira, 26 de junho de 2013

Trailers cada vez mais aderem à estética dos clipes

Na edição deste mês, a revista norte-americana "Wired" fez um estudo anatômico de 154 trailers de filmes entre 1933 e 2013. Ele aponta que as mudanças vistas na linguagem cinematográfica, pelas quais o cinema se aproximou da estética do videoclipe (com mais cortes e movimentos de câmera), também ocorreram nessas peças.

Na década de 1950, o trailer dos filmes analisados tinha, em média, 12 cortes por minuto e maior duração --o de "O Maior Espetáculo da Terra" (1952) durava seis minutos e 53 segundos. Já "Argo", vencedor do Oscar deste ano, tem um trailer com 59 cortes por minuto (em dois minutos e meio).

Um trailer é constituído, geralmente, por três atos: primeiro, personagens e trama são apresentados; em seguida vêm os conflitos, intensificados no terceiro ato com tensão ou humor, por exemplo.

Mas são principalmente os que subvertem essa estrutura que acabam lembrados depois. O diretor de "O Abismo Prateado" (2013), Karim Aïnouz, decidiu ir além da receita básica de resumir a história.

"O trailer deveria se esquecer de que era um trailer para virar peça conceitual, algo que fizesse com que o espectador imaginasse as imagens a partir de um dos lastros do filme. No caso, a própria canção que o inspirou ['Olhos nos Olhos', de Chico Buarque]", explicou Aïnouz.

Com um um minuto e 31 segundos, a peça inspirada principalmente na nouvelle vague (movimento artístico surgido no final dos anos 1950 e formado por cineastas como Jean-Luc Godard e François Truffaut) emula um karaokê da música de Chico.

"Dr. Fantástico" (1964), de Stanley Kubrick, tem um trailer com 136 cortes por minuto, que alterna diálogos e letreiros.

Mas, se a ideia é resumir, por que não fazer como Jean-Luc Godard? O trailer de "Filme Socialismo" é simplesmente os 102 minutos do longa acelerados em 74 segundos.

Por Matheus Magenta, para o caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, em 25/06/2013.

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