quinta-feira, 10 de junho de 2010

"3D não é um modismo", diz executivo de Hollywood

Na temporada pipoca de 2012 – entre maio e agosto, verão no hemisfério norte – todos os grandes lancamentos serão em 3D. Entre eles: novos "MIB-Homens de Preto", "Fúria de Titãs", "X-Men", "Constantine", "Godzilla", "Batman", "O Exterminador do Futuro" e "Homem Aranha", refilmagens de "O Chamado", "Hellraiser", "Duna", "Tartarugas Mutantes Ninja", "Jetsons", "20 mil Léguas Submarinas" e "Flash Gordon", relançamento de "Titanic" com visão tridimensional, e, na animação, "An African Tale" e "Paws & Wires".

A razão é muito simples: em dezembro de 2009, os lançamentos em 3D já haviam contribuído com US$ 1,3 bilhões em receita – e isso antes do lançamento mundial de "Avatar", o filme que mudou para sempre as regras do jogo em termos de 2D versus 3D. “Hoje, todo mundo tem que ter pelo menos um filme 3D em sua carteira”, diz um agente de vendas com grande experiência no mercado internacional. Recém-chegado de Cannes, onde fechou bons negócios com "Space Dogs", um longa de animação em 3D produzido na Rússia, o agente (que, como quase todos os ouvidos pelo UOL Cinema para esta matéria, preferiu se manter anônimo), o agente tem certeza de que “3D não é um modismo passageiro, não com o atual padrão de produção.” E que apenas uma coisa pode de fato comprometer a riqueza do filão: exatamente a má qualidade do acabamento. “É muito fácil colocar um adesivo '3D' em qualquer lançamento, depois de uma conversão às pressas. Mas se o mercado for invadido por esse tipo de produto, poderemos ver o esgotamento do formato e a desilusão do público.”

As empresas de conversão, contudo, não se preocupam nem um pouco com esse fator. A cada semana assistimos o anúncio de mais uma nova companhia dedicada a transformar filmes – ao vivo e de animação – em lançamentos 3D. “É uma opção acessível para quem quer participar de um mercado cada vez mais competitivo”, diz o representante de marketing de uma “casa de conversão”, termo da indústria para empresas de finalização que cria, artificialmente o look 3D (como foi o caso de "Fúria de Titãs" e , em breve "O Último Mestre do Ar"). “Estamos repensando várias decisões criativas”, diz um executivo de produção, definindo em termos os mais vagos possíveis a tensão que se apossa de todo distribuidor que tem um filme onde um look 3D poderia ser um apelo de bilheteria.

“Mais uma vez corremos o risco de matar a galinha dos ovos de ouro”, diz um alto executivo de marketing, responsável por algumas das maiores e mais bem sucedidas campanhas internacionais dos últimos anos. “O 3D é uma excelente ferramenta de marketing. O problema é que, a partir de 'Avatar', todo mundo quer entrar na brincadeira. 'Avatar' foi extraordinário em todos os sentidos. Temo por um mercado tomado por lançamentos abaixo do nível, que certamente vão desgastar o apelo do formato.”

Se o chamariz de bilheteria aguça o apetite dos departamentos de marketing e distribuição, é a liberdade criativa que serve de atrativo a realizadores tão diversos quanto James Cameron, um dos primeiros apóstolos do 3D, e Martin Scorsese, o mais recente convertido com seu projeto "Hugo Cabret", uma fantástica história infantil que se passa na Paris dos anos 1930 e que tem lançamento previsto para dezembro de 2011.

“É estimulante poder pensar em três dimensões”, diz o roteirista Neil Landau, atualmente trabalhando no longa de animação "Tadeo Jones", baseado num premiado curta espanhol. “Você tem que trabalhar desde o início sabendo que está criando para um ambiente tridimensional e pensar em ações que ocupem todo o espaço do olhar do espectador. Mas esse mesmo recurso pode ser usado de forma excessiva e gratuita, para anestesiar a platéia – muitas coisas voando em cima dos espectadores, por exemplo, é cansativo.”

Aí está, diz Landau, a diferença entre uma moda passageira – como foram as primeiras tentativas de 3D nos anos 1950 e 60 – e um bom recurso criativo. “No fim das contas, o que vale é ainda uma boa história, bons personagens e uma visão criativa. Em 'Avatar' tudo isso existia e se completava com a experiência imersiva do 3D, utilizado de um modo genial, orgânico, dentro do próprio processo criativo. Em Álice', achei supérfluo – a visão de Tim Burton por si mesma já valia a trajetória do filme. Não se pode usar o 3D para compensar por fraqueza narrativa. Temo que esse vai ser o maior risco do 3D.”

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