sexta-feira, 10 de maio de 2013

Eficácia do benefício é no mínimo discutível

O amplo apoio à meia-entrada entre os paulistanos expressa a consagração, talvez irrefletida, de uma instituição cuja legitimidade provém da ideia de que a sociedade deve facilitar e estimular o acesso de estudantes a bens culturais.

Tratando-se de jovens, em geral fora do mercado de trabalho (e portanto "duros"), o ingresso reduzido diminuiria a barreira financeira que poderia privá-los do consumo de cultura. Essa lógica bem-intencionada tem sido questionada pelos fatos.

Segundo produtores da área, a presença de estudantes verdadeiros ou falsificados nas bilheterias chegaria em média a 60%, nos cinemas, e alcançaria até 95% em festivais de música pop.

Como o poder público impõe um subsídio mas não o banca, a consequência econômica é a elevação do preço dos ingressos para compensar a perda. Aparentemente, todos pagam mais, embora o não estudante pague ainda mais para financiar a generalização da suposta meia-entrada.

Agora, propõe-se uma cota de 40% para o ingresso com desconto, o que, em tese, permitiria uma redução de até 35% nos valores. Não há nenhuma garantia de que isso vá acontecer.

O instituto da meia-entrada data da década de 1940, quando a população estava na casa dos 50 milhões -- mais ou menos a quantidade de estudantes que existe hoje no país (cerca de 57 milhões). Naquela época, não havia TV, muito menos DVD, internet ou YouTube.

Com o tempo, a meia- entrada passou mais e mais a ser defendida como "conquista política" -agenciada por entidades, como a Une (União Nacional dos Estudantes), que usam a vantagem para angariar apoio e recursos.

É no mínimo discutível a eficácia distributiva do benefício. O termo estudante define uma coletividade, mas encobre a diversidade socioeconômica de seus indivíduos. Tem estudante rico, classe média e pobre, embora todos usufruam o mesmo privilégio.

É também claro que boa parte das atividades a que o estudante tem acesso subsidiado seria melhor definida como lazer ou diversão do que como cultura.

Que diferença faz, afinal, do ponto de vista do enriquecimento da formação estudantil, pagar menos para assistir a um show do Cake ao vivo ou ver de graça um clipe da banda na TV?

Em 06/05/2013, por Marcos Augusto Gonçalves, para o jornal Folha de São Paulo.

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