quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Saiba como entrar na Academia e vencer o Oscar de melhor filme

Política e matemática. Os flashes e as lágrimas são o que todo mundo vê no tapete vermelho e no palco do Oscar 2011, mas, nos bastidores da festa, o que norteia a premiação são a frieza dos números e o corporativismo dos profissionais da indústria do cinema. No segundo ano em que 10 concorrentes disputam o prêmio de melhor filme, muita gente ainda não conhece a fórmula complexa que permite que o segundo colocado favorito da maioria, por exemplo, ganhe a principal estatueta da noite.

Antes, no entanto, é preciso entender quem faz parte desse time da Academia de Hollywood, responsável por organizar e entregar o Oscar. Formada por mais de 6 mil membros, a entidade é um clube de "notáveis" e não tem tanto peso corporativo (para isso servem os sindicatos). Ela é dividida em 15 setores, de acordo com cada área da indústria cinematográfica, como atores, diretores, documentaristas e técnicos de efeitos especiais. Não é possível ser sócio de mais de um setor – se o sujeito é ao mesmo tempo ator, diretor e roteirista, será escolhido para participar de apenas um desses times particulares.

Ser indicado a um Oscar ajuda muito, mas não é garantia da carteirinha de sócio. Para entrar na Academia, o primeiro passo é ter uma boa relação com os colegas. Isso porque o processo de seleção é sempre o mesmo: o candidato precisa ter dois "padrinhos" em sua área, que defendam seu nome e o apresentem à diretoria do setor.

Se apoiada, a candidatura vai adiante e é avaliada pelo Conselho da Academia, uma espécie de Senado formado pela presidência – encabeçada atualmente pelo executivo Tom Sherak e seu vice, Sid Ganis, que já foi quatro vezes presidente – e por representantes eleitos. Esse pequeno grupo (menos de 10% do total de associados) avalia se o candidato representa os "altos padrões" da Academia ou tem uma contribuição importante ao cinema. Se for o caso, parabéns, o convite chega às mãos do felizardo (que talvez nem estivesse a par desse processo todo), assim como a cobrança da anuidade de 250 dólares.

Em 2011, coincidentemente, a diretora da área de atores da Academia – a mais populosa, com 1.183 sócios – é uma das indicadas a melhor atriz: Annette Bening, protagonista de "Minhas Mães e Meu Pai". Uma votação em massa dos associados pode fazer com que ela surpreenda a favorita Natalie Portman, de "Cisne Negro", e leve para casa a estatueta. Uma manobra política, portanto, que tem peso ainda maior no momento de definir os indicados.

No final de dezembro, cada associado envia uma lista de cinco concorrentes, em ordem de preferência, de sua área de atuação: roteiristas votam em roteiro, atores nos prêmios de interpretação, maquiadores em maquiagem e assim por diante. Todos os associados, no entanto, informam seus preferidos a melhor filme. A partir disso, chega-se à lista final de indicados que disputam a estatueta – a exceção fica por conta de melhor filme estrangeiro e longa-metragem de animação, selecionados por comitês específicos.

Já na hora de escolher os vencedores, dois meses depois, os membros votam em todas as categorias, apesar de nenhuma delas ser obrigatória – a princípio, é possível deixar algumas em branco, embora dificilmente isso aconteça. Assim, um maquiador pode opinar em outros prêmios técnicos, como edição e direção de fotografia, além dos principais. Em apenas cinco categorias é preciso comprovar ter visto todos os concorrentes: curta-metragem e curta de animação, documentário em longa e curta-metragem e filme estrangeiro.

A grande mudança do ano passado, com dez finalistas ao Oscar de melhor filme, é que, em vez de apenas marcar um "X" em seu favorito, o votante numera por ordem de preferência, de 1 a 10, todos os indicados, começando por seu filme predileto (1) e terminando com aquele que menos gostou (10).

As últimas cédulas foram enviadas aos eleitores no dia 02 de fevereiro e recebidas até o dia 22. Tudo é feito de forma manual, tanto o voto dos membros quanto a apuração: a Academia continua abrindo mão da tecnologia para garantir que os resultados finais, manejados por auditores, estejam ao alcance de poucos.

Sistema preferencial: o quebra-cabeças

Até 2009, ganhava o Oscar o indicado com o maior número de votos. Isso continua valendo para todas as categorias, exceto para o prêmio de melhor filme, o mais importante da festa. Com dez candidatos no páreo, a Academia achava arriscado que uma produção com apenas 11% de apoio pudesse, apesar de bastante improvável, ganhar a estatueta. Assim, a empresa responsável pela auditoria do prêmio decidiu adotar o complexo sistema de preferências.

Grosso modo, funciona da seguinte forma: na apuração, a empresa monta dez pilhas de votos, separando-as de acordo com os filmes que tiveram a nota máxima, ou seja, uma pilha para as cédulas com "O Discurso do Rei" na primeira posição, outra com "Cisne Negro", outra com "A Rede Social", até todas estarem divididas.

O próximo passo é eliminar a pilha com o menor número de cédulas, redistribuindo os votos a partir do filme na segunda posição em cada uma delas. Caso um filme que tenha sido descartado esteja na segunda posição, usa-se aquele que está na terceira, e assim por diante. Esse procedimento se repete até que a pilha de um dos filmes tenha 51% do total de cédulas recebidas, que será o ganhador.

Essa técnica permite, por exemplo, que o filme na segunda posição da maioria dos votantes seja o grande vencedor da noite – é só ir eliminando as pilhas que se chega lá. Pode parecer complexo e até injusto, mas o sistema preferencial é utilizado atualmente nas eleições municipais de algumas cidades dos Estados Unidos e de forma geral na Austrália. Muita gente defende sua efetividade, em especial os auditores da PricewaterhouseCoopers, que zelou pela segurança do Oscar em 77 de seus 83 anos.

"Quando há 10 concorrentes para um prêmio específico, a vantagem do sistema preferencial é que ele realmente mede a profundidade do apoio entre os todos votantes", garantiu o auditor Rick Rosas à Associated Press. "A chave é sempre ter o maior número de votos na primeira posição, porque isso dá uma probabilidade maior de vitória. Os votos em segundo ou terceiro lugar podem nunca vir à tona, dependendo de quem ficou em primeiro."

Por Marco Tomazzoni, em 23/02/2011, no link http://ultimosegundo.ig.com.br/oscar/saiba+como+entrar+na+academia+e+vencer+o+oscar+de+melhor+filme/n1238096874423.html

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