Não é tarefa fácil assistir a um clássico ao lado de um adolescente. Além das diferenças visuais e de ritmo, filmes como "Janela Indiscreta", dirigido por Alfred Hitchock em 1954, registram períodos não tão distantes, mas marcados pela ausência de objetos e costumes presentes em seus cotidianos.
A tecnologia mudou a forma como nos relacionamos com o mundo, e longas-metragens como esse deixam evidente que situações plausíveis há 50, 30 ou até mesmo 15 anos jamais ocorreriam da mesma forma na atualidade - e a culpa é dos celulares, da internet e do politicamente correto, entre outras mudanças.
Com isso em mente, levantamos sete cenas de filmes que retratam períodos distintos e mostramos como o advento da tecnologia e a adoção do politicamente correto inviabilizariam seus acontecimentos.
"Janela Indiscreta" (1954), de Afred Hitchcock
No filme, o fotógrafo interpretado por James Stewart encontra-se preso a uma cadeira de rodas após quebrar uma perna. Por isso, passa a lutar contra o tédio observando sua vizinhança pela janela. O voyeur faz uso de um binóculo e das potentes lentes de sua câmera - e para sua infelicidade, acaba testemunhando um possível assassinato.
Ao transpor a situação para os dias atuais, muita coisa muda. O tédio poderia ser combatido não apenas com a janela, mas em salas de bate-papo da internet. Além disso, o personagem não perderia seu tempo observando tudo com um binóculo: ele com certeza teria uma filmadora portátil e gravaria tudo para assistir mais tarde em alta velocidade - diminuindo o ritmo apenas nos momentos mais interessantes.
"Curtindo a Vida Adoidado" (1986), de John Hughes
Ferris Bueller, o adolescente interpretado por Matthew Broderick em "Curtindo a Vida Adoidado", monta um plano perfeito para conseguir cabular um dia de aula sem ser apanhado pelo diretor de sua escola ou por seus pais.
Se tentasse repetir o feito duas décadas mais tarde, ele certamente seria fotografado à exaustão durante sua performance no desfile da comunidade alemã nas ruas de sua cidade e, popular como só, se tornaria o assunto do dia no Twitter - o que acabaria garantindo ao rapaz um belo castigo.
"Uma Luz na Escuridão" (1992), de David Seltzer
A trama de "Uma Luz na Escuridão" acontece durante a Segunda Guerra Mundial, no momento em que a secretária interpretada por Melanie Griffith assume um serviço de espionagem dentro da casa de um oficial nazista.
Em determinado momento, a espiã encontra uma série de planos secretos de mísseis alemães, que ela fotografa com sua câmera, mas que só chegarão ao governo aliado se ela conseguir sair ilesa da Alemanha - trabalho desnecessário na atualidade, em que qualquer câmera ou celular pode enviar via internet as imagens que acabara de registrar.
"Zodíaco" (2007), de David Fincher
Apesar de lançado em 2007, a história do filme "Zodíaco" ocorre na década de 1970, época em que a cidade de São Francisco foi aterrorizada pelo Assassino do Zodíaco. Durante o período de investigação, o cartunista interpretado por Jake Gyllenhaal recebe telefonemas anônimos com a respiração de alguém.
Se há 40 anos detectar a origem dessas ligações era algo complicado, hoje qualquer pessoa pode contratar um serviço de bina e descobrir o número do telefone utilizado - ou, na pior das hipóteses, descobrir a origem com a ajuda da polícia.
"Warriors - Os Selvagens da Noite" (1979), de Walter Hill
Logo no início do filme "Warriors - Os Selvagens da Noite", os membros das principais gangues de rua de Nova York são convidados para uma reunião ao ar livre no Bronx - festa que jamais ocorreria 30 anos depois.
Com a internet, a notícia de que os maiores criminosos da cidade iriam se encontrar seria divulgada e, além da polícia, até a MTV estaria por lá transmitindo ao vivo o discurso do líder Cyrus.
"O Massacre da Serra Elétrica" (1974), de Tobe Hooper
Mais uma vez, a telefonia celular poderia ter salvado algumas vidas. No caso, a da jovem Sally Hardesty e seus amigos, que após se perderem na área rural do Texas, acabam encontrando uma família nada amistosa, que tem como hábito cozinhar e comer pessoas.
Nesse caso, ao dar de cara com o assassino mascarado Leatherface, ela poderia correr e ao mesmo tempo ligar para a polícia - que não duvidaria da veracidade de seu chamado ao ouvir o barulho da moto serra (e não serra elétrica) do psicopata.
"A Estranha Passageira" (1942), de Irving Rapper
Apesar de não envolver a tecnologia, a cena de amor protagonizada pelos atores Bette Davis e Paul Henreid em "A Estranha Passageira" jamais seria filmada e exibida em cinemas sem receber uma série de críticas.
Isso porque antes de declarar-se para sua amada, o rapaz acende não um, mas dois cigarros, que são compartilhados com direito a muita fumaça - um momento impensável em tempos em que o tabaco é severamente combatido.
Por Guss de Lucca, em 15/11/2010, no link http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/cinema/as+cenas+que+jamais+veriamos+hoje+no+cinema/n1237826181038.html
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